Vida em Movimento – T3:E1 – Energias limpas e biocombustíveis

No mês em que comemoramos o Dia Mundial do Meio Ambiente, o Vida Em Movimento, podcast da Fundação Grupo Volkswagen, traz um assunto que interessa para (literalmente) o mundo inteiro: energias limpas e renováveis. Além de descrevermos quais são elas – e como o Brasil atua no desenvolvimento de cada uma –, abordamos a crise climática (causada pelo excesso de gases de efeito estufa na atmosfera) e como o etanol pode contribuir para mitigar os danos – e com um destaque: o nosso etanol é considerado o melhor do mundo! Também entrevistamos Pablo Di Si, executivo entusiasta e grande incentivador do tema, e Presidente Executivo da Volkswagen na região da América Latina.
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VINHETA DE ABERTURA

 

FUNDO MUSICAL

 

LOCUÇÃO: Ludmila Vilar

 

Olá, a todas e todos. Bem-vindos ao primeiro episódio da terceira temporada do Vida em Movimento, o podcast da Fundação Grupo Volkswagen. Eu sou Ludmila Vilar e hoje vamos trazer um assunto importante para o mundo inteiro: fontes de energia. Mais especificamente: fontes limpas de energia. Ou seja, aquelas que são renováveis, pois vêm de recursos naturalmente reabastecidos, como o sol, a água, o vento, por exemplo. Dentro de sua causa de “mobilidade urbana e comunidades sustentáveis”, investigar e incentivar formas de energia limpa é um dos temas prioritários para a Fundação Grupo Volkswagen a partir de 2022. O grande ganho é que essas energias poluem menos e comparadas aos combustíveis fósseis, como o petróleo, por exemplo, emitem menos gases causadores do efeito estufa, na atmosfera. São gases, por exemplo, como o dióxido de carbono, conhecido como CO2.

Efeito estufa. Provavelmente você já ouviu falar muito dele, mas é sempre bom lembrar por que o efeito estufa é considerado um dos maiores desafios da nossa geração. Na verdade, trata-se de um fenômeno natural causado por gases, que estão na atmosfera desde a formação da terra, há cerca de 4 bilhões de anos.  São eles os responsáveis por absorver parte da radiação infravermelha emitida pela superfície terrestre, e são eles também, que permitem que a temperatura do planeta fique na média de 15 graus celsius. Ou seja, sem esses gases, a Terra seria gelada, e a sobrevivência da grande maioria dos seres vivos, inclusive nós os humanos, seria impossível.

Bom, então, qual é o problema? O problema é o excesso, a grande quantidade de emissão desses gases, provocada pela queima de combustíveis fósseis, desmatamento e outras ações humanas, causando um desequilíbrio que contribui para um fenômeno conhecido como aquecimento global. Estamos lançando cada vez mais gases de efeito estufa na atmosfera e isso tem um efeito colateral perigosíssimo, pois vai se formando uma espécie de barreira que faz com que mais radiação infravermelha seja retida e refletida novamente. Dessa forma, o efeito estufa deixa de ser natural e passa a causar o sobreaquecimento do planeta, ou seja, o planeta fica muito quente, que leva a mudar o clima com sérias consequências para a vida na terra. Algumas delas estão listadas, inclusive, no novo relatório apresentado ao mundo, em fevereiro deste ano, pelo painel intergovernamental de mudanças climáticas, o IPCC. O IPCC, para quem não sabe, é  um organismo criado nos anos 80, pela Organização das Nações Unidas, a ONU. Centenas de cientistas do mundo inteiro participam desse painel, e a pesquisa apresentada por eles, neste ano, traz um dado chocante. Segundo o estudo, as mudanças climáticas colocam quase metade da população humana em risco. O documento mostra, ainda, que o mundo vai esquentar mais de 1,5 grau celsius nas próximas duas décadas, ou seja, bem mais cedo do que diziam as avaliações anteriores.

Você aí, pode estar pensando que um grau e meio parece pouco, mas para o planeta é muito. Para se ter ideia, hoje enfrentamos um aquecimento de 1 grau celsius em comparação a meados do século 19 e isso já impacta todas as regiões do planeta. Entre as consequências apontadas por cientistas estão o derretimento das geleiras e calotas polares, o aumento do nível dos mares, a desertificação, e talvez, entre os efeitos mais sentidos, até agora, está a alteração do regime das chuvas. A gente não precisa ir muito longe, para lembrar o que aconteceu recentemente em Pernambuco, Petrópolis, Minas e Bahia, onde algumas cidades ficaram totalmente imersas pelas águas das chuvas. Por outro lado, entre estes efeitos, temos, também, a intensificação das secas e a escassez de água. Tudo isso leva à redução da biodiversidade e à extinção de espécies, à perda de áreas férteis para a agricultura, além de trazer fome, provocar migrações em massa e disseminar doenças.

Infelizmente, exemplos concretos não faltam. Em 2021, por exemplo, a ONU anunciou que Madagascar, país insular situado perto da costa sudeste da África, estava prestes a enfrentar a primeira crise de fome causada pelas mudanças climáticas no mundo. Isso porque, três anos consecutivos de seca afetaram gravemente as colheitas e o acesso aos alimentos no país. E tem mais! A última década foi a mais quente dos últimos 125 anos! Além disso, o nível do mar vem aumentando mais rápido do que em qualquer século dos últimos 3 mil anos! Por isso tanto se fala na agenda 2030, plano de ação global criado pela ONU. Esse plano reúne 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável – os chamados ODS.

Atualmente, as iniciativas da Fundação Grupo Volkswagen estão alinhadas a metas de seis desses objetivos, entre eles o ODS 11, sobre cidades e comunidades sustentáveis. Agora que já sabemos por que é tão importante diminuir a emissão de gases causadores do efeito estufa, vamos conhecer quais são as diferentes fontes renováveis de energia que podem contribuir para que o aquecimento do planeta seja freado – e mais importante, quais já são usadas no Brasil.

Uma delas é a eólica, gerada por meio dos ventos, que movimentam turbinas e transformam esse movimento em eletricidade. Segundo dados da agência nacional de energia elétrica (Aneel), quase 9% das usinas no Brasil são eólicas.

Temos também a energia oceânica – gerada por meio do movimento das marés, com a instalação de turbinas no fundo do mar.  Ela não é a mais famosa dessa turma toda de energias limpas, mas é muito estudada aqui no Brasil. Afinal, né? Mar não falta para a gente.

Aqui, temos ainda, a energia hidráulica, gerada pela força e pelo volume das águas, mediante a construção de usinas hidrelétricas. Essa fonte é responsável por mais de 65% da energia elétrica gerada no país. E é o que torna a matriz energética do Brasil três vezes mais sustentável que a média global.

Já a energia solar é dividida em dois tipos: a fotovoltaica e a heliotérmica. Na primeira, a luz solar é convertida diretamente em eletricidade, por meio de painéis ou placas. Na segunda, converte-se o calor da luz solar em energia térmica. Neste caso, o sol incide em espelhos que direcionam a luz para um ponto com água. Em seguida, a água vira vapor, que gera energia elétrica.

E por fim, temos a biomassa, que nos interessa – e muito! O termo se refere a qualquer tipo de matéria orgânica que pode ser usada na geração de energia. Por exemplo: a cana de açúcar, o milho, a beterraba… os biocombustíveis são produzidos a partir de processos relacionados à biomassa. E é aí que o assunto fica superbrasileiro. Quando o tema é gerar combustível a partir da cana, o Brasil desponta como um dos grandes protagonistas desse tema, devido às nossas condições climáticas e terras férteis. A partir da cana de açúcar, retiramos o álcool etílico, o etanol. E o produto brasileiro é considerado o melhor do mundo! Além disso, temos o biogás, produzido a partir do bagaço da cana. Mas, vamos falar mais sobre isso daqui a pouco.

Agora que contamos quais são as fontes limpas de energia e porque elas merecem investimento, é preciso lembrar que qualquer mudança, para dar certo, precisa sair do papel –  ou, no caso, dos laboratórios de pesquisa. E é aí, que as empresas ganham destaque nesse movimento. A boa notícia é que muitas têm investido nisso. A Volkswagen do Brasil, a Raízen e a Shell celebraram recentemente uma parceria para acelerar a descarbonização do setor automotivo. A ideia é valorizar fontes sustentáveis de energia, especialmente os biocombustíveis brasileiros. O acordo contempla uma série de iniciativas, estimulando principalmente o uso do etanol nos automóveis e de biogás nas fábricas da Volkswagen.

E, para que essa estratégia fique completa, está prevista, também, a instalação de postos de recarga para os carros elétricos da marca e o fornecimento de energia renovável para a rede de concessionários da Volkswagen no Brasil também fazem parte dessa parceria.

E por falar em etanol e energia limpa, vamos entender melhor sobre esse assunto e sobre a importância dele para o Brasil e para o meio ambiente. Para isso, convidamos um entusiasta e grande incentivador do tema: Pablo Di Si. Pablo é graduado pela Harvard Business School e tem MBA Executivo em Gestão Internacional pela Thunderbird School of Management – além de ser Presidente Executivo da Volkswagen na região da América Latina.

Locutora – Pablo, prazer estar aqui com você e obrigado por ter aceitado o nosso convite. Para começar, vamos entender mais sobre o etanol. Como e por que esse biocombustível passou a ser estudado e considerado no Brasil como uma base forte para a descarbonização do setor automotivo?

Pablo Di Si – Olha, Ludmila, não só para o setor automotivo, mas para muitos setores. E para começar a responder essa pergunta, eu preciso fazer alguns comentários sobre a matriz energética do Brasil e do mundo. A matriz energética do Brasil é muito limpa, 85% da matriz é de energias renováveis. Mas não é assim no mundo inteiro, né? E cada dia mais – e mais agora com essa guerra que está acontecendo –, a energia está no centro das discussões da geopolítica, da economia e dos aspectos sociais. Então, quanto mais fontes renováveis você tenha, melhor. Seja solar, seja eólica, seja biocombustíveis, enfim, água ou qualquer um deles. O Brasil tem um histórico fantástico de biocombustíveis etanol, que foi criado nos anos 70 para reduzir a importação do petróleo e depois foi descoberto que era bom para o meio ambiente. Então, incentivar o etanol na indústria automobilística não é só bom para o meio ambiente, porque reduz até 80% o CO2 da gasolina, como também cria outros produtos como o biogás, o biometano, que são utilizados em nossa indústria e em outras indústrias brasileiras.

Locutora – Como o etanol e outros biocombustíveis se inserem na estratégia de eletrificação de uma marca global como a Volkswagen?

Pablo Di Si – Então voltando à matriz energética. Se você tem um carro elétrico, um carro híbrido, ou qualquer tipo de veículo, o que você sempre procura é que o combustível seja de uma fonte de energia renovável. Então, você pode ter um veículo elétrico em países como a Polônia, que tem 90% da sua matriz a base de energia fóssil, quanto mais você carrega um carro elétrico pior é para o meio ambiente. Países como o Brasil é o inverso: temos uma matriz energética limpa, então é positivo. O etanol é complementar e como podemos abastecer um veículo elétrico, abastecer um veículo híbrido e obviamente um veículo flex, porque nós temos uma redução de CO2 imediata, não precisamos eletrificar nenhum país, não precisamos de investimento, nós já podemos tomar a decisão de trocar a gasolina por etanol do jeito que está e já começamos a acelerar a redução de CO2 no Brasil.

Locutora – Falamos aqui no programa que o Brasil possui uma das matrizes energéticas mais limpas do mundo, além do nosso etanol ser considerado o de melhor qualidade. Diante disso, qual a importância de termos essa junção de fatores no desenvolvimento da mobilidade sustentável no Brasil?

Pablo Di Si – Ludmila, acho que o Brasil tem uma vantagem geopolítica que é histórica, porque de novo, voltando a guerra e olhando o biocombustível e também os alimentos, são os dois pontos fortes do Brasil. Entrando nos biocombustíveis o Brasil é o único país que nós falamos que tem três safras: tem o etanol, a cana de açúcar, depois tem algumas plantações de soja na mesma temporada e cria resíduos que alimentam o gado. Então aqui nós falamos em três safras e isso é único no mundo. Essa discussão de etanol à base de comida, que aconteceu na Europa e aconteceu nos Estados Unidos, não aconteceu no Brasil porque aqui temos a base de cana de açúcar e nós geramos mais resíduos – que são transformados em biometano e biogás. Então nós temos um ecossistema que ajuda muito, que é muito sustentável para o Brasil e para o mundo.

Locutora – Além do centro de pesquisa e desenvolvimento para biocombustíveis que está sendo estabelecido no Brasil pela Volkswagen, quais outras ações a empresa tem feito no que diz respeito ao desenvolvimento de novas tecnologias com base no etanol?

Pablo Di Si – Nós estamos – de novo: como Volkswagen agora – pesquisando como vamos incluir o etanol no híbrido e principalmente no elétrico com tecnologias novas que ainda não foram descobertas. Então, por exemplo, será que nós podemos transformar o etanol numa célula combustível para carro elétrico? Porque se sim, se encontrarmos essa solução, podemos salvar o mundo. Não que o etanol seja a única solução. De novo, é complementar. Estamos estudando como estender a autonomia do carro elétrico com um transformador a etanol. Nós estamos olhando muitas tecnologias que acho que algumas vão dar certo e outras não vão dar certo. O importante é continuar pesquisando e encontrar soluções brasileiras que possam ser utilizadas tanto no país, como para exportar. Nós não podemos criar mais jabuticabas que apliquem só para o Brasil. Eu sempre falo que nós conhecemos muito na Volkswagen, mas não conhecemos tudo. E, claro que temos engenheiros fantásticos dentro da Volks, que estão pesquisando, mas também, reconhecendo que não sabemos tudo, fizemos muitas e muitas parcerias com universidades de ponta no Brasil. Nós assinamos parceria com a Unicamp com o professor Gustavo Pereira e outros grandes professores têm uma liderança muito forte aqui no Brasil. Nós fizemos parceria com a USP e outras empresas do setor de bioenergia para pesquisar muito essas coisas que eu já comentei. O importante é pesquisar e estudar com diferentes tipos de mente, né? Uma coisa é o engenheiro da Volkswagen olhar o problema, e que bom que  um universitário, uma  outra faculdade, outro tipo de empresa, olhem o mesmo problema e que soluções podem encontrar em conjunto para o Brasil e o mundo.

Locutora – A Fundação Grupo Volkswagen decidiu abraçar a causa da mobilidade urbana e das comunidades sustentáveis, tendo a energia limpa como um de seus temas prioritários para os próximos anos. Para você, como a educação também pode contribuir para esse movimento?

Pablo Di Si – Ludmila, você sabe que a Volkswagen, em nível mundial, é uma empresa que olha muito a educação e a parte social. Obviamente isso não é diferente no Brasil e também não é diferente na Fundação Volkswagen no Brasil. A educação e a comunicação têm um fator chave, porque tem muita gente que nem sabe que temos motor flex no Brasil. Nós precisamos comunicar com fatos, de forma simples, de forma clara, e ao fim do dia, o consumidor que escolhe que tipo de veículo ele ou ela quer, sim? E nós fizemos muitas campanhas com a Fundação Grupo Volkswagen, seja costurando as máscaras (Costurando o Futuro), aqueles Litros de Luz. Nós fizemos muitas e muitas campanhas, mas acho que essa é uma campanha fundamental que vamos precisar de todas as forças disponíveis para comunicar quais são os benefícios científicos. Isso é um benefício do país, do meio ambiente, tanto no meio ambiente como no aspecto social, como no aspecto econômico, que pode gerar toda essa economia de biocombustíveis. E tem muita confusão e tem muitas mensagens que não são certas no mundo inteiro. De novo: acredito muito em fatos científicos em demonstrar, com fatos, o grande benefício que o biocombustível tem no mundo.

Locutora – Muito obrigada, Pablo, pela sua participação e espero que a gente tenha esclarecido sobre esse assunto tão importante que é a energia limpa.

Pablo Di Si – Ludmila, eu que agradeço o convite, estamos juntos nesse processo de educação, de comunicação e do grande trabalho que a Fundação Grupo  Volkswagen vem fazendo e vai continuar fazendo.

Locutora – Com isso, encerramos mais um episódio do Vida em Movimento. Um abraço e até o próximo episódio!

Locutor – O podcast Vida em Movimento é uma realização da Fundação Grupo Volkswagen. Produção, pesquisa e roteiro: RPTCom e Fundação Grupo Volkswagen. Apresentação: Ludmila Vilar. Produção musical, gravação, edição e finalização: Banca Comunicação